O ADOECIMENTO DO ESPÍRITO PELO TRABALHO: PREVALÊNCIA DE BURNOUT E O PAPEL MEDIADOR DA AUTOCOMPAIXÃO EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE
INTRODUÇÃO: A “Sociedade do Burnout” é um fenômeno contemporâneo caracterizado pela busca excessiva por performance, positividade exagerada e hiperatividade, acarretando fadiga física e mental e a Síndrome de Burnout. Em profissionais da saúde, as demandas do trabalho, suscetibilidade individual e má organização contribuem para o estresse, esgotamento, absenteísmo, erros no diagnóstico e tratamento e aumento dos casos de Síndrome de Burnout. OBJETIVOS: Compreender os processos de adoecimento do espírito em contextos ocupacionais da saúde, pela correlação entre Síndrome de Burnout e autocompaixão. MATERIAIS E MÉTODO: Estudo transversal, quantitativo e descritivo, em que foram utilizados os seguintes instrumentos: Questionário para levantamento dos dados sociodemográficos; Índice de Burnout e Realização Profissional; Escala Breve de Autocompaixão; Quatro itens indicativos de Sofrimento Moral e Escala WHO-5 de Bem-Estar. A coleta dos dados ocorreu entre novembro de 2024 e março de 2025. As análises estatísticas foram baseadas em frequências, médias, desvios-padrão, testes qui-quadrado, modelos de regressão linear e o nível de significância adotado foi de 5% (p < 0,05). RESULTADOS: Participaram do estudo 186 pessoas, sendo 98 do sexo feminino 87 do sexo masculino e 1 de outro sexo. A média de idade foi 51 anos. O índice geral de Burnout mostrou uma distribuição consideravelmente equilibrada: 34% apresentaram risco alto, 32% risco moderado, e 34% risco baixo, com todas as proporções significativamente diferentes de 50% (p < 0.001), sendo a realização profissional inversamente proporcional à percepção de Burnout (χ² (4) = 62,37; p < 0,001). Embora o Burnout esteja amplamente presente na amostra, os níveis de intensidade variam consideravelmente, afetando diferentes perfis de profissionais. Os modelos de regressão para os desfechos Autocompaixão e Bem-Estar foram estatisticamente significativos, sendo que a idade foi o único preditor com associação consistente e significativa nos múltiplos modelos, inclusive com relação inversamente proporcional com a Exaustão Profissional (B = -0.098, p < 0.001). Também foram realizadas análises de regressão independentes para avaliar os efeitos da Autocompaixão, Bem-Estar e idade sobre a Realização Profissional (F (3, 182) = 42.64, p < 0.001), Exaustão Profissional (F (3, 182) = 75.03, p < 0.001, com R² = 0.553) e Desengajamento Interpessoal (F (3, 182) = 30.42, p < 0.001, com R² = 0.334), todos os quais foram estatisticamente significativos. Sobre os estilos de enfrentamento do estresse, 38,17% empregam estratégias voltadas para a emoção; 37,63% utilizam estratégias de modo passivo, 6,45% empregam estratégias voltadas à solução de problemas, e 13,44% utilizam coping (enfrentamento) espiritual, 3,23% usam estratégias disfuncionais. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Pode-se concluir que Burnout, autocompaixão, bem-estar psicológico e realização profissional se relacionam de forma inversamente proporcional. O bem-estar subjetivo tem um impacto mais significativo, sendo, pois, um fator protetor consistente contra os três domínios do Burnout, especialmente relevante para a preservação do senso de realização profissional, porém a autocompaixão ainda contribui de maneira significativa, atuando como um recurso relevante na regulação emocional e na preservação da saúde mental. Intervenções futuras, voltadas ao treino da autocompaixão, mostram-se potencialmente profícuas para lidar com a Síndrome de Burnout.
PALAVRAS-CHAVE: Burnout; Autocompaixão; Bem-estar; Profissionais da saúde; Habilidades de enfrentamento.
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