MISE EN SCÈNE ENTRE O REAL E O MÁGICO
INTRODUÇÃO: O realismo mágico é uma das expressões artísticas mais marcantes da literatura latino-americana, caracterizando-se pela integração do insólito ao cotidiano, pelo engajamento político-social e pela construção de narrativas não-lineares em espaços ambíguos. Apesar de suas origens literárias, o movimento influenciou outras linguagens, como o cinema, que enfrenta o desafio de representar, através de imagens e sons, elementos tradicionalmente vinculados à palavra escrita. Neste contexto, a mise-en-scène torna-se um recurso fundamental para traduzir os sentidos e atmosferas do realismo mágico para o audiovisual, articulando composição visual, ritmo e encenação. OBJETIVOS: O objetivo geral da pesquisa foi analisar como a mise-en-scène contribui para a transposição do realismo mágico da literatura para o cinema. Os objetivos específicos incluíram: aprofundar as características do realismo mágico e sua transposição para o audiovisual; compreender os fundamentos da mise-en-scène; e analisar como suas escolhas formais são utilizadas em obras latino-americanas para comunicar os elementos centrais do gênero. MATERIAIS E MÉTODO: A pesquisa baseou-se em revisão teórica sobre realismo mágico, mise-en-scène e análise fílmica. As principais referências foram Giulia Vidal, Lucila Inés Mena, Luiz Carlos Oliveira Júnior e Michel Mourlet. A análise de cenas seguiu a metodologia proposta por Francis Vanoye e Anne Goliot-Lété, que propõe a leitura do filme como um texto audiovisual com construção narrativa e estilística. As obras escolhidas foram o filme “Erêndira” (1983) e a série “Cem Anos de Solidão” (2024), selecionadas por sua relação direta com o gênero e relevância cultural. RESULTADOS: Foram identificadas nas obras as quatro principais características do realismo mágico: o mágico e o natural integrados; o caráter político-social; a não-linearidade e heterotopia. A mise-en-scène foi fundamental na construção dessas dimensões por meio de planos, movimentos de câmera, direção de atuação e montagem. As análises revelaram abordagens distintas entre os diretores, indicando que não há uma estética única, mas um conjunto de estratégias que comunicam sensações e sentidos próprios ao gênero. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O estudo concluiu que a mise-en-scène é essencial para a transposição cinematográfica do realismo mágico, pois ela permite que os sentimentos, atmosferas e críticas presentes na literatura sejam recriados no audiovisual, mesmo por meios diferentes. O cinema, assim, mostra-se capaz de manter a força simbólica, política e poética do gênero, quando orientado por escolhas formais sensíveis e articuladas.
PALAVRAS-CHAVE: Realismo mágico; Mise-en-scène; Análise fílmica; Cinema latino-americano; Gabriel Garcia Marquez.
Para validarmos seu voto, por favor, preencha os campos abaixo. Alertamos que votos duplicados ou com CPF inválido não serão considerados.