DEMOCRATIZANDO O ACESSO: IMPACTO DO PROUNI NO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO E NA VIVÊNCIA DE INCLUSÃO DOS ESTUDANTES BOLSISTAS

INTRODUÇÃO: O Programa Universidade Para Todos (ProUni) é uma política pública que visa a ampliação do acesso ao Ensino Superior por meio da concessão de bolsas de estudos integrais e parciais em universidades privadas para estudantes de baixa renda. Apesar de possibilitar o acesso desses estudantes ao Ensino Superior, os prounistas enfrentam inúmeros desafios para permanecer na universidade, dada a ausência de ações interventivas destinadas a garantir a permanência de todos os prounistas no contexto universitário. Em vista disso, questiona-se a eficiência do ProUni enquanto política pública de democratização do Ensino Superior no Brasil para além do acesso às universidades. OBJETIVOS: Analisar as vivências de inclusão de prounistas e os desafios para democratização do Ensino Superior. MATERIAIS E MÉTODO: Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com 22 prounistas de uma universidade privada do sul do país. As entrevistas foram transcritas na íntegra e utilizou-se um mapa dialógico para a organização dos dados, de acordo com os objetivos de pesquisa. Os discursos dos participantes foram analisados por meio da análise dialógica discursiva, fundamentada em conceitos bakhtinianos. RESULTADOS: Além de enfrentarem diversas dificuldades decorrentes de sua vulnerabilidade socioeconômica (dificuldade para custear alimentação, moradia e transporte, e rotina exaustiva de trabalho e estudos), evidenciaram-se desafios de ordem subjetiva associados ao local social ocupado pelos estudantes enquanto bolsistas no espaço elitizado da universidade. A desigualdade social vivenciada pelos prounistas gera o sentimento de não pertencimento à universidade e de desvantagem devido à sua origem de escola pública, refletindo tanto na dificuldade de participar de atividades extracurriculares (pela necessidade de trabalhar ou devido a limitações financeiras) quanto nas relações com as práticas acadêmicas e sociais da universidade. Isso envolve desde as demandas de aprendizagem até a socialização com docentes e colegas, sejam pagantes ou bolsistas. Tais relações são frequentemente marcadas por diferenças ou similaridades socioeconômicas, que podem aproximar os bolsistas (devido às vivências similares e ao sentimento de empatia compartilhado) ou causar distanciamento entre bolsistas e pagantes, quando a desigualdade se torna explícita. Em vista disso, os prounistas são impedidos de inserir-se plenamente no contexto universitário e acessar todas as suas oportunidades. Concomitantemente, identifica-se uma contradição presente nas vivências dos prounistas, os quais precisam buscar, nesse contexto de exclusão e não pertencimento, sentidos positivos acerca de suas trajetórias acadêmicas que os permitam ressignificar os desafios vivenciados para permanecer na universidade até a conclusão da graduação. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Tendo em vista a função social do ProUni enquanto política pública de democratização do Ensino Superior no Brasil, conclui-se que ainda são muitos os desafios à permanência dos estudantes prounistas na universidade. Para concretização desse objetivo, é necessária a responsabilização do ProUni e das universidades privadas aderentes ao programa pelas trajetórias acadêmicas dos prounistas, com a elaboração e implementação de intervenções que impactem esses estudantes para além do mero acesso ao contexto universitário. Dessa forma, a permanência digna dos prounistas nas universidades se torna possível, concretizando a função social do ProUni.

PALAVRAS-CHAVE: ProUni; Ensino Superior; Democratização; Inclusão; Vivência Acadêmica.