ESTUDO ANALÍTICO ENTRE A DEPÊNDENCIA QUÍMICA E O TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR EM CENTRO DE REFÊRENCIA
INTRODUÇÃO: O transtorno afetivo bipolar (TAB) é um distúrbio psiquiátrico caracterizado pela ciclagem entre episódios depressivos e maníacos. Atualmente, observa-se associação entre os transtornos psiquiátricos e a dependência química, relação que ainda é pouco estudada. OBJETIVOS: Relacionar a prevalência da dependência química em pacientes com transtorno afetivo bipolar, analisando seus vieses e especificidades. MATERIAIS E MÉTODO: Estudo retrospectivo, transversal e analítico, com uso de dados secundários de prontuários de pacientes acompanhados por transtorno afetivo bipolar em uma clínica entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022. Os dados coletados em anonimato foram tabulados na plataforma Microsoft Excel e analisados no programa IBM SPSS Statistics, versão 30.0.0. RESULTADOS: 835 pacientes foram incluídos na pesquisa. Esses eram majoritariamente do sexo feminino (73,9%), com uma média de idade de 41 anos, do estado civil solteiro (49,1%). Quanto ao TAB, o código internacional de doenças mais prevalente foi o F31.0 – episódio atual hipomaníaco (49,3%). Dentre os pacientes analisados, 27,4% já haviam sido submetidos a internações prévias em internações psiquiátricas e 13,3% atingido estados mais graves da doença, com ideação ou tentativa de suicídio. Além disso, 74,5% dos pacientes se encontravam em polifarmácia psicotrópica para controle sintomático. Quanto ao uso de substâncias psicoativas, 12,8% dos pacientes afirmavam uso de drogas – sendo as mais prevalentes o tabaco (6,8%) e a cocaína (3,8%) – enquanto 8,4% apresentavam transtornos mentais e comportamentais devido ao uso de álcool. Ao realizar a comparação entre as variáveis demográficas e clínicas com a dependência química, encontrou-se que idade menor, sexo masculino, internação prévia e uso de álcool são fatores independentes associados ao uso de drogas. Nesse contexto, o sexo masculino apresenta mais do que o dobro de chance de uso de drogas em relação ao sexo feminino (OR = 2,33; IC95%: 1,53–3,54; p < 0,001) e solteiros apresentam mais chance de uso de drogas em relação a divorciados/viúvos (OR = 2,24; IC95%: 1,08–4,65; p = 0,030). Quanto as variáveis clínicas, pacientes com histórico prévio de ideação ou tentativa de suicídio apresentam mais de três vezes a chance de usar drogas em comparação àqueles sem essa clínica (OR = 3,51; IC95%: 2,18–5,64; p < 0,001) e pacientes com internação psiquiátrica prévia apresentam mais de três vezes a chance de usar drogas em comparação àqueles sem esse contexto (OR = 3,52; IC95%: 2,32–5,34; p < 0,001). Por fim, usuários de álcool têm quase 15 vezes mais chance de usar outras drogas (OR = 14,9; IC95%: 8,74–25,6; p < 0,001). CONSIDERAÇÕES FINAIS: Existe prevalência preocupante de dependência química dentre os portadores de TAB. Destacam-se os grupos de maiores riscos: jovens, do sexo masculino, de estado civil solteiro, com internações prévias em instituições psiquiátricas e/ou quadros de ideação ou tentativa de suicídio. Destaca-se também o uso concomitante de álcool e substâncias químicas como um potencial fator agravante. Entende-se, portanto, que o manejo da dependência química em pacientes psiquiátricos deve ser conduzido como uma questão de saúde pública, com foco em manejo precoce, visando minimização do sofrimento psíquico e prevenção de desfechos graves.
PALAVRAS-CHAVE: Transtorno Bipolar; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias; Dependência química; Internação de Pessoas com Transtornos Psiquiátricos; Distúrbios Psiquiátricos.
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