SAÚDE MENTAL, ADOLÊSCENCIA E ERA DIGITAL: INVESTIGANDO O AUTODIAGNÓSTICO DE TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO A PARTIR DA REDE SOCIAL TIKTOK
INTRODUÇÃO: A crescente presença das redes sociais no cotidiano adolescente tem impactado diretamente a forma como eles compreendem a sua saúde mental. O TikTok, amplamente utilizado por esse público, tornou-se um espaço de disseminação de conteúdos sobre transtornos como ansiedade e depressão, frequentemente sem respaldo científico, produzindo autodiagnósticos, com impactos negativos na construção da identidade e no enfrentamento de sofrimentos psíquicos na adolescência. OBJETIVOS: Investigar a influência do TikTok no autodiagnóstico de depressão e transtornos de ansiedade em adolescentes, compreendendo como a exposição a esses conteúdos interfere na percepção que eles têm sobre sua própria saúde mental e identificando motivações para o autodiagnóstico sem acompanhamento profissional. MATERIAIS E MÉTODO: Foi realizada uma pesquisa de caráter documental, com a análise de 40 vídeos da plataforma TikTok – 20 sobre ansiedade e 20 sobre depressão – selecionados com base na popularidade. Os vídeos foram categorizados conforme o tipo de conteúdo (ponto de vista; humor; conscientização; profissionais). Além disso, foram analisados cerca de cinco comentários por vídeo, totalizando 187 interações, também organizadas por categorias (identificação pessoal; pedidos de ajuda/esclarecimento; relatos pessoais; dicas/conselhos leigos; humor e depreciação). RESULTADOS: A análise revelou que o TikTok se consolidou como um espaço central de construção e circulação de sentidos sobre ansiedade e depressão entre adolescentes. Os vídeos analisados, em grande parte no formato “POV”, mostram como esses transtornos são traduzidos em cenas curtas, esteticamente atraentes e emocionalmente intensas, que transformam experiências comuns da adolescência em sinais de doença. Essa estética da intimidade cria uma cultura da exposição, na qual abrir a própria vulnerabilidade funciona como forma de reconhecimento e acolhimento coletivo. Entretanto, ao simplificar e estetizar o sofrimento, esses conteúdos favorecem tanto o autodiagnóstico quanto a patologização de expressões subjetivas da adolescência, além de reforçar o processo de medicalização dessas vivências. A presença de profissionais de saúde mental mostrou-se escassa e frequentemente associada a práticas comerciais e à produção de conteúdos superficiais, o que amplia o engajamento, mas compromete a qualidade técnica e ética da informação. Nos comentários, destacam-se relatos pessoais, pedidos de ajuda e conselhos leigos, expressando a carência de suporte qualificado e a função da plataforma como espaço de acolhimento simbólico, mas ineficaz. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Confirma-se que o TikTok funciona para os adolescentes como espaço de expressão subjetiva, identificação emocional e construção coletiva de sentidos sobre o sofrimento psíquico, associado à busca por pertencimento, compreensão pessoal e resposta às demandas sociais, familiares e escolares. Ao mesmo tempo, favorece o autodiagnóstico sem respaldo técnico, reduz experiências típicas da adolescência a transtornos, reforça identidades patologizadas e contribui para a medicalização da vida. Esse cenário exige atenção à construção da identidade em uma cultura altamente tecnológica, marcada pela imediaticidade, exposição constante e desejo de visibilidade. É essencial criar espaços que acolham o sofrimento sem reduzi-lo a diagnósticos precipitados; fortalecer redes de apoio que integrem contextos virtuais e presenciais; ampliar o debate sobre saúde mental no ambiente digital; incorporar educação midiática em diferentes contextos, promovendo o uso crítico das plataformas e garantindo a presença ética e qualificada de profissionais da saúde mental.
PALAVRAS-CHAVE: Adolescência; Saúde mental; Autodiagnóstico; TikTok; Ansiedade e depressão.
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