ANÁLISE HISTOLÓGICA DO IMPLANTE DE SCAFFOLDS POR BIOIMPRESSÃO 3D DE COLÁGENO HIDROLISADO DA GELEIA DE WHARTON PARA REPARAÇÃO TRAQUEAL DE COELHOS

INTRODUCTION: A traqueostomia é uma intervenção comum em situações de obstrução das vias aéreas, ventilação prolongada e cirurgias cervicais, mas pode desencadear complicações relevantes, como estenose traqueal. A engenharia tecidual tem buscado alternativas para regeneração do tecido traqueal, utilizando biomateriais com propriedades regenerativas e biocompatíveis. A geleia de Wharton, encontrada no cordão umbilical humano, apresenta potencial imunomodulador, anti-inflamatório e rico conteúdo de matriz extracelular, o que a torna uma candidata promissora para aplicações em reconstrução traqueal. No entanto, os efeitos de sua aplicação direta sobre a parede traqueal ainda não são completamente compreendidos AIMS: Avaliar os efeitos da aplicação de geleia de Wharton descelularizada em defeitos traqueais de coelhos, por meio de análise morfométrica do lúmen traqueal e observações clínicas, com o intuito de verificar seu potencial regenerativo ou efeitos adversos. MATERIALS AND METHODS: Quatorze coelhos da raça Nova Zelândia foram submetidos à traqueostomia e divididos em dois grupos. O grupo controle (n=5) recebeu apenas a incisão e sutura da traqueia. O grupo experimental (n=9) recebeu implante de geleia de Wharton descelularizada diretamente sobre o defeito traqueal. A geleia foi preparada por protocolo de descelularização e armazenada sob condições estéreis. Após 30 dias, os animais foram eutanasiados, e os segmentos traqueais foram coletados para análise morfométrica do perímetro e da área luminal, utilizando microscopia e software de medição digital. Durante o período pós-operatório, foram monitorados sinais clínicos respiratórios e intercorrências. RESULTS: A média da área luminal foi significativamente menor no grupo tratado com geleia de Wharton (7.823.587 μm²) em comparação ao grupo controle (15.700.000 μm²), com p < 0,01, indicando estenose importante. O perímetro traqueal não apresentou diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p = 0,216), embora tenha havido aumento numérico no grupo tratado, sugerindo espessamento da parede. Clinicamente, foram observados sinais de desconforto respiratório, como estridor, dispneia, apatia e recusa alimentar em vários animais do grupo experimental. Três animais desse grupo evoluíram para óbito antes do período de eutanásia programada, enquanto todos os do grupo controle completaram o protocolo. FINAL CONSIDERATIONS: A aplicação de geleia de Wharton descelularizada diretamente sobre defeitos traqueais em coelhos resultou em redução significativa da área luminal e manifestações clínicas compatíveis com obstrução das vias aéreas. Esses achados indicam que, apesar de seu potencial regenerativo, a forma isolada e descelularizada da geleia pode induzir resposta cicatricial adversa, comprometendo a função traqueal. É necessário cautela na sua utilização, bem como investigação de métodos complementares, como suportes estruturais ou bioengenharia associada, para garantir a eficácia e segurança do implante em procedimentos reconstrutivos da traqueia.

KEYWORDS: Geleia de Wharton; Traqueostomia; Regeneração tecidual; Engenharia tecidual; Biomateriais.