FATORES BIOPSICOSSOCIAIS E AMBIENTAIS ASSOCIADOS A DEMÊNCIA EM IDOSOS RESIDENTES NA EUROPA EM 2020

INTRODUÇÃO: O processo de envelhecimento abrange múltiplas dimensões da vida humana, envolvendo transformações tanto fisiológicas quanto psicossociais. Desse modo, a compreensão das condições clínicas associadas e fatores psicossociais ao risco de desenvolvimento de demência ao longo do envelhecimento é essencial para subsidiar estratégias preventivas e integradas. Nesse contexto, o Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe (SHARE), que acompanha bianualmente a população europeia com 50 anos ou mais, permitem investigar de forma abrangente essas associações. OBJETIVOS: Identificar fatores biopsicossociais e ambientais associados a presença de demência, em idosos residentes da Europa em 2020, a partir da análise dos dados da 8ª onda do projeto SHARE. MATERIAIS E MÉTODO: Estudo transversal com dados da 8ª onda (2021–2022) do projeto SHARE aprovado pelo Comitê de Ética da Sociedade Max Planck. Todos os participantes (respondentes) da 8ª onda do projeto SHARE foram considerados. Destes, foram excluídos os menores de 60 anos, que vivem em instituições de longa permanência, residentes em Israel, entrevistas de fim de vida e dados ausentes para o diagnóstico de demência e/ou à escala EURO-D de avaliação de depressão. A presença de demência foi considerada como diagnóstico conhecido de doença de Alzheimer, demência, síndrome cerebral orgânica, senilidade ou outro comprometimento grave de memória. Modelos de regressão logística binária multivariável foram utilizados para estimar Odds Ratio (OR) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) da associação das seguintes variáveis independentes com a presença de demência: idade, sexo, inatividade física, obesidade, comorbidades, depressão (≥4 pontos no EURO-D), dor crônica, limitação em uma ou mais atividade básicas ou instrumentais de vida diária (ABVDs/AIVDs), solidão, não residir com o parceiro, hospitalização nos últimos 12 meses, grau de escolaridade, situação atual de trabalho, nível de dificuldade para a subsistência familiar e região da Europa que reside. RESULTADOS: Das 95935 entrevistas, foram analisados dados de 37724. Destes, 636 apresentavam demência (prevalência de 1,7% [IC95%: 1,6–1,8%]). A idade média foi de 72,07 anos e 56,7% eram mulheres. Quando ajustados em modelo multivariável, o aumento da idade (OR: 1,055 [IC95%: 1,037–1,073]), história pregressa ou diagnóstico recente de AVC (OR: 2,015 [IC95%: 1,433–2,833]) e de DPOC (OR: 1,578 [IC95%: 1,114–2,236]), assim como ter depressão (OR 2,570 [IC95%: 1,958–3,375]), ter limitação e uma ou mais ABVDs/AIVDs (OR 3,754 [IC95%: 2,790–5,050]) e morar nas regiões Norte da Europa quando comparada à morar na Europa Ocidental (OR 1,437 [IC95%: 1,040–1,985]) mostraram-se associados de forma independente à presença de demência. Este modelo multivariável explica 87,1% da probabilidade de ocorrência de demência na população estudada (área sob a curva ROC de 0,871 [IC95%: 0,851–0,892]). CONSIDERAÇÕES FINAIS: A prevalência de demência em idosos, com 60 anos ou mais, residentes na Europa e inferior a 2%. A presença de demência está independente e diretamente associada ao aumento da idade, a presença de depressão, de limitação e uma ou mais atividades básicas ou instrumentais de vida diária, de história pregressa ou diagnóstico recente de acidente vascular cerebral e de doença pulmonar obstrutiva crônica, bem com a região em que reside.

PALAVRAS-CHAVE: Demência; Depressão; Envelhecimento; Fatores de Risco.