ASSOCIAÇÃO ENTRE FUNCIONALIDADE E ADERÊNCIA AO TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DE PACIENTES AMBULATORIAIS SUS
INTRODUÇÃO: o envelhecimento populacional é uma realidade crescente no Brasil, com projeções indicando que cerca de 30% da população será composta por idosos até 2050. Esse grupo etário apresenta elevada prevalência de doenças crônicas, o que resulta no uso contínuo de medicamentos por grande parte dos idosos. Diante desse cenário, a adesão ao tratamento farmacológico torna-se um fator crucial, porém desafiador, especialmente quando associada à perda da funcionalidade. A funcionalidade, entendida como a capacidade de realizar atividades da vida diária, pode impactar diretamente na autogestão terapêutica. OBJETIVOS: este estudo teve como objetivo principal analisar a associação entre a funcionalidade e a adesão ao tratamento farmacológico em idosos atendidos em ambulatórios do Sistema Único de Saúde (SUS). Os objetivos secundários incluíram investigar o grau de adesão medicamentosa, identificar as alterações funcionais mais relevantes e compreender o papel de fatores epidemiológicos nessa relação. MATERIAIS E MÉTODO: trata-se de um estudo observacional, transversal e multicêntrico, realizado com 610 atendidos em ambulatórios do SUS. A coleta de dados incluiu entrevistas estruturadas, aplicação de escalas validadas para avaliação de adesão (BMQ adaptado e MAT) e funcionalidade (AIVD). Foram realizadas análises estatísticas descritivas, bivariadas e regressão logística multivariada, com significância estabelecida em p < 0,05. RESULTADOS: Foram avaliados 610 indivíduos, com idade média de 71,8 anos (±7,6) e predominância do sexo feminino (69,2%). Observou-se que a maioria possuía baixa escolaridade (59,0%) e renda mensal inferior a dois salários mínimos (62,1%). Além disso, a maior parte dos participantes (76,4%) convivia com duas ou mais doenças crônicas, especialmente hipertensão arterial (67,9%), diabetes mellitus (38,2%), dislipidemia (33,1%) e doenças osteoarticulares (25,9%). O uso de medicamentos também foi expressivo, com uma média de 4,7 (±2,6) por dia e uma mediana de 10 comprimidos diários, evidenciando um quadro de polifarmácia. Aproximadamente 27% foram classificados como funcionalmente dependentes. A prevalência de não adesão foi de 32,1% entre os dependentes, contra 23,8% nos independentes (p = 0,048). Os idosos sem adesão apresentaram menor força de preensão, pior desempenho no teste de sentar e levantar, menor escolaridade e maior número de medicamentos. Na regressão logística multivariada, a dependência funcional foi associada à menor adesão (OR = 0,621; IC95%: 0,400–0,965; p = 0,034). Contudo, ao ajustar pela presença de crenças negativas sobre medicamentos (identificadas no BMQ adaptado), essa associação deixou de ser significativa. Idosos com crenças negativas apresentaram risco significativamente maior de não adesão (OR = 2,985; IC95%: 1,984–4,372; p < 0,001). A análise estratificada mostrou que a funcionalidade esteve associada à adesão apenas entre os idosos sem crenças negativas (OR = 0,522; IC95%: 0,296–0,922; p = 0,024), indicando um possível efeito moderador das crenças sobre medicamentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Conclui-se que a dependência funcional está associada à menor adesão medicamentosa, especialmente na ausência de crenças negativas. Tais achados reforçam a importância de uma abordagem clínica integrada, que inclua a avaliação funcional e aspectos psicossociais, com foco na educação em saúde e no acompanhamento multidisciplinar para promoção da adesão e do envelhecimento saudável.
PALAVRAS-CHAVE: Adesão medicamentosa; Funcionalidade; Idosos; Sistema Único de Saúde; Envelhecimento.
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