AS INTERPOLAÇÕES MARCANAS; ANÁLISE NARRATIVA DA REAÇÃO DA FAMÍLIA DE JESUS E A CALÚNIA DOS ESCRIBAS (MARCOS 3,20-35)
INTRODUÇÃO: A presente pesquisa partindo da perícope de Marcos 3,20-35 apresenta a reação da família de Jesus, a calúnia dos escribas e a questão sobre Beelzebu, perdão e o pecado contra o Espírito. Por meio da análise dos operadores da narrativa do Evangelho de Marcos, buscou-se compreender as interpolações, típicas da obra marcana, que, como uma técnica narrativa, além de criar suspense e prender o leitor, estabelecem relações hermenêuticas entre cenas contrastantes atuando como recurso literário e teológico capaz de reafirmar a identidade messiânica de Jesus e o projeto do discipulado, ampliando o conceito família e estabelecendo relação com temas específicos da perícope e de toda a obra marcana OBJETIVOS: O objetivo geral foi analisar os aspectos estilísticos e narrativos da perícope, identificando a relação entre as narrativas interpoladas. Os objetivos específicos tratavam de: estudar o Evangelho de Marcos de forma panorâmica, identificando sua estrutura literária e contexto de produção; realizar a análise narratológica da perícope; e propor uma reflexão teológica e pastoral que fundamentasse uma compreensão atualizada do discipulado marcano. MATERIAIS E MÉTODO: O método foi exegético de natureza qualitativa, descritiva e bibliográfica. Apoiou-se na análise estilístico-narrativa orientada pelos manuais de narratologia bíblica e fontes adicionais. A investigação desenvolveu-se na seguinte sequência: análise do contexto histórico, social e literário do Evangelho de Marcos; estudo dos operadores narrativos (enredo, personagens, voz narrativa, enquadramento temporal, social e geográfico); apresentação dos aspectos teológicos de Marcos; e elaboração de uma reflexão hermenêutica e a indicação de aplicação pastoral da compreensão da perícope RESULTADOS: A pesquisa demonstrou que Marcos constrói a perícope a partir de uma estrutura interpolada, cenas alternadas, que evidenciam contraste entre a incompreensão dos familiares e a rejeição deliberada dos escribas. A narrativa apresenta Jesus como o centro teológico, cuja autoridade messiânica supera as autoridades religiosas e redefine os critérios de pertença à nova família do Reino. A análise dos personagens mostrou que os de fora, representados pelos familiares e pelos escribas, ocupam posições distintas: enquanto os primeiros, movidos por incompreensão, podem ser conduzidos ao discipulado, os segundos, por escolha deliberada, permanecem no pecado eterno. A unidade teológica foi evidenciada pela articulação das cenas, que funcionam como um recurso hermenêutico, permitindo que as partes se relacionem mutuamente e com a obra marcana. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Constatou-se que a perícope não é apenas um relato de conflito, mas um texto teologicamente denso que revela a identidade messiânica de Jesus e propõe um discipulado inclusivo e abrangente. O verdadeiro discípulo não é definido por laços sanguíneos, mas pela escuta e prática da vontade divina, o que amplia o acesso ao Reino a todos os que aderem livremente à mensagem de Jesus, principalmente os esquecidos pelas autoridades. Apontou implicações pastorais, indicando que a Igreja é convocada a rever, constantemente, suas concepções de pertença e a acolher, com sensibilidade e diálogo, os grupos marginalizados, refletindo a atitude inclusiva proposta por Jesus. Por fim, o estudo sugere a ampliação da investigação para outras interpolações, a fim de aprofundar a compreensão do projeto teológico e narrativo do evangelho.
PALAVRAS-CHAVE: Evangelho de Marcos; Análise narrativa; Interpolações marcanas; Identidade messiânica; Discipulado.
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